Puisias & Afins

25 febrero, 2008

QUARENTA ANOS

A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo.

Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte
Me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança
Oh sono, vem! Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano que amei a vida.

Mario de Andrade

20 febrero, 2008

Provocada tristeza

Que falta faz
Amor de pedaço
Um ficou ou partiu

Que gente encontrou sua vida
Quando perdeu

Que amor amou não
Que cresceu não
Que viveu não

Amor, provocada a tristeza
Passou não, que saudade
Coração de espaço espalhado
Apertado e pequeno pedaço sem cor

Amor, provocada a tristeza
Passou não
Que saudade
Que falta faz
Amor de pedaço

Eduardo Politzer

mais do Eduardinho em: http://www.jornadalua.blogspot.com/

12 febrero, 2008

Raspa do Tacho

Olhando bem de frente minha vida
Percebo que a idade não me afeta
Pois se Einstein provou ser relativa
A porta do futuro me é aberta
O passado só dói quando é lembrado
O presente só é bom se vivido
Com a fome de quem come calado
Com a sede de quem bebe comigo

Minha avó, eu bem sei, contava histórias.
Meu avô, como dizem, foi bem sério
Minha mãe reza terços e novenas
O meu pai será sempre um mistério
Entre o céu e o inferno faço versos
Canto o mundo que está sendo escrito
Como folhas de um jornal semi-aberto
Como páginas de um livro mal lido

Mário Quintana disse em poesia
Que a vida é uma hospedaria incerta
De onde partimos às tontas um dia
E nossas contas nunca estão bem certas
Dou às costas pra neoliberalismos
Internacionalizo o que nem não prezo
Separando política e banditismo
Desprezo quase todos do congresso

Mas basta de castigos a galope.
O meu mote não faz nenhum sentido
Mesmo que ainda esteja muito vivo
O meu copo tá cheio até o pote
Enquanto os homens pesam suas guerras
Vou levando a vida como der
Ao bel prazer do mundo e a sua sorte
Vou dizendo: Prazer, Marcos André


Marcos André