QUARENTA ANOS
A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo.
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança
Oh sono, vem! Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano que amei a vida.
Mario de Andrade
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